O erro

 

Sentado junto ao computador, ele pensava no seu dia. Tinha visitado todas as páginas e blogs, tinha visto as notícias do dia. Enfim, tinha que começar a trabalhar no tema. Corrigir textos era sinónimo de angústia, de lentidão. Dificilmente avançava quando observava um erro numa folha de papel, na construção de uma frase, na utilização de uma palavra fora do seu contexto. Para ele erro o era como uma poeira que tudo tapava e nele despertava aquela ânsia de tudo arrumar, limpar, esclarecer.

Perguntava-se a sí próprio, inúmeras vezes, o que teria levado as pessoas a colocar no papel palavras se não sabiam pensar, articular uma ideia.

Revia textos e pensava no tema. Muitas coisas escritas e pouco de substantivo tinha sido feito. Gostava de pensar assim. Como se o conteúdo fosse o mais importante. Lia alto as palavras e corrigia. Não gostava do seu tom, não combinava com o seu estado de espírito. Sorria ironicamente sempre que alguém tinha pretensões de ir mais longe. Não podia fingir indiferença.

Ouviu o telefone lá longe e sentou-se na cadeira preta, alta, confortável.Dominou a irritação e atendeu a chamada. Olhou em volta ouviu risos abafados pelo vidro da sala. Pegou no balde e na esfregona e voltou-se para a janela. Um olhar atento também encontraria muitas imperfeições naquele vidro cinzento.

 

publicado por imprevistoseacasos às 10:46 | comentar | favorito