A entrevista
Ramiro esconde a comida dentro da mala. Apetecia-lhe devorar, já, tudo quanto tinha preparado quando partira de Melgaço.
Colhera os pequenos tomates cherry e plantara-os dentro do pão comprado por aquela mãe que escondia as lágrimas atrás dos grossas lentes dos óculos. Ramiro acrescentara o queijo de cabra da quinta e, agora no autocarro, sentia-se perfumado por aquele odor tão familiar.
Preparara-se para uma entrevista de emprego e estava pela primeira vez perante um empregador. Na viagem de autocarro, preparara silenciosamente todas as respostas possíveis. Entre o sono e a gula, em Ramiro pulsava o entusiamo de deixar para trás a quinta, o verde, a família e a pouca liberdade.
Diria que adorava ler, que gostava de crianças e que estava motivado. Bastaria. Qualquer um, que olhasse para ele, veria aquela genuina luz provinciana. Ficaria contagiado pela sua inocência.
Chega finalmente. Mandam-no entrar.
- Bom dia, seja bem vindo - dizem.
- Porra! Já dizia que cá não chegava...