A dança
Levantou-se de manhã, disfarçando o nervosismo. Acordou perto das seis da manhã e, como era habitual, tinha os dois irmãos já acordados na cama ao lado. Brincavam e diziam que tinham fome. Já não tinha tempo para lhes dar um banho rápido e ainda tinha que limpar a cozinha depois do pequeno-almoço antes de os levar para a escola.
Disse um bom-dia rápido aos tios com quem vivia e pôs a mesa. Enquanto esperava pelas torradas ensaiava uns passos de dança e agradecia mentalmente os aplausos que ouvia.
Acordou do sonho com os gritos dos irmãos e dos tios. Limpou a cozinha, fez as camas, arranjou-se no quarto, organizou as mochilas dos irmãos sem olhar para a sua, viu quanto dinheiro tinha para o seu almoço e dos irmãos e saiu de casa de mão dada com ambos. Voltou a casa e resolveu guardar na mochila um lenço fino que a mãe lhe tinha dado há muitos anos quando viviam juntos. Ainda sentia a suavidade do lenço no rosto quando a mãe lho colocou pela primeira vez.
Andou vários minutos com os irmãos deixando-os na escola primária, seguindo para a sua de autocarro. Ainda se sentia nervosa quando entrava pelos portões da escola, de cartão magnético na mão.
Hoje vários colegas correram até ela, perguntando se estava nervosa. Limitou-se a sorrir dizendo que não, que não. Pediram-lhe ajuda nos passos mais difíceis e ela disse que sim, que era fácil, bastava fechar os olhos e sentir a música.
No final do dia, depois de ter ouvido tantos aplausos, ter bebido coca-cola, comido bolo, gelados e outras guloseimas, Amália guardou o lenço na mochila e perguntou que horas eram à professora. Escondeu a tristeza num abraço forte e saiu da escola em direcção ao seu quotidiano.
Para o ano não sabia se voltaria à escola. Era quase uma senhora e por isso brevemente casaria com um rapaz que já lhe estava prometido há anos.