Jorge Luis Borges, William Faulkner e Ernest Hemingway são alguns dos 10 escritores cujas entrevistas à Paris Review chegam agora a Portugal, compiladas num volume editado pela Tinta-da-China. E.M. Forster, Graham Greene, Truman Capote, Lawrence Durrell, Boris Pasternak, Saul Bellow e Jack Kerouac são os outros autores presentes nestas entrevistas com selecção e tradução do jornalista Carlos Vaz Marques. The Paris Review foi uma revista criada em 1953 por um grupo de jovens intelectuais norte-americanos em Paris, que inventaram a entrevista literária tal como hoje a conhecemos. Neste volume da Tinta-da-China, com ilustrações de Vera Tavares, foi mantida a ordem pela qual as entrevistas foram publicadas na revista literária trimestral, tendo decorrido 15 anos entre a de E.M. Forster e a de Jack Kerouac.
(fonte: Público)
"Neste momento, é óbvio para todos que a culpa do estado a que chegou o ensino é (sem querer apontar dedos) dos professores. Só pode ser deles, aliás. Os alunos estão lá a contragosto, por isso não contam. O ministério muda quase todos os anos, por isso conta ainda menos. Os únicos que se mantêm tempo suficiente no sistema são os professores. Pelo menos os que vão conseguindo escapar com vida.
É evidente que a culpa é deles.
E, ao contrário do que costuma acontecer nesta coluna, esta não é uma acusação gratuita. Há razões objectivas para que os culpados sejam os professores. Reparem: quando falamos de professores, estamos a falar de pessoas que escolheram uma profissão em que ganham mal, não sabem onde vão ser colocados no ano seguinte e todos os dias arriscam levar um banano de um aluno ou de qualquer um dos seus familiares. O que é que esta gente pode ensinar às nossas crianças? Se eles possuíssem algum tipo de sabedoria, tê-Ia-iam usado em proveito próprio. É sensato entregar a educação dos nossos filhos a pessoas com esta capacidade de discernimento? Parece-me claro que não. A menos que não se trate de falta de juízo mas sim de amor ao sofrimento. O que não posso dizer que me deixe mais tranquilo. Esta gente opta por passar a vida a andar de terra em terra, a fazer contas ao dinheiro e a ensinar o Teorema de Pitágoras a delinquentes que lhes querem bater. Sem nenhum desprimor para com as depravações sexuais -até porque sofro de quase todas -, não sei se o Ministério da Educação devia incentivar este contacto entre crianças e adultos masoquistas. Ser professor, hoje, não é uma vocação; é uma perversão. Antigamente, havia as escolas C+S; hoje, caminhamos para o modelo de escola S/M. Havia os professores sádicos, que espancavam alunos; agora o há os professores masoquistas, que são espancados por eles. Tomando sempre novas qualidades, este mundo. Eu digo-vos que grupo de pessoas produzia excelentes professores: o povo cigano. Já estão habituados ao nomadismo e têm fama de se desenvencilhar bem das escaramuças. Queria ver quantos papás fanfarrões dos subúrbios iam pedir explicações a estes professores. Um cigano em cada escola, é a minha proposta. Já em relação a estes professores que têm sido agredidos, tenho menos esperança. Gente que ensina selvagens filhos de selvagens e, depois de ser agredida, não sabe guiar a polícia até à árvore em que os agressores vivem, claramente, não está preparada para o mundo."
Ricardo Araújo Pereira in Opinião, Boca do Inferno, Revista Visão
Vá, recorra ao audioguide, beba um café, perca-se pela livraria, mas sobretudo veja com calma, várias vezes o mundo particularmente sombrio da pintora. Sorria com a ironia e sinta-se pequeno perante todo aquele imaginário....