Carrego uma tristeza
"Carrego uma tristeza" dizia-me ela, "vejo imagens a toda a hora, dos meus irmãos e de mim a dar-lhes banho. Não me consigo concentrar. Ou bem que trabalho e estou ocupada ou então é a mesma coisa há anos."
Olhei para ela, tinha apenas doze anos, e pensei que estranho mundo aquele que não permitia a uma criança, a qualquer criança, descansar, brincar, estudar, nada fazer. Ofereci-lhe um chocolate quente, ao qual resistiu. Bebericou-o, por fim, com suavidade, enquanto olhava para a janela.
"O meu tio esqueceu-se de mim outra vez. São quase sete horas da tarde e já devia estar a ajudar no jantar." Tentei sossegá-la, dizendo que estava muito trânsito, nem sempre era fácil sermos pontuais. Apenas respondeu: "Logo quando for ao Culto, peço por ele. Deus perdoa-lhe e eu também".