Quando me disseram, fiquei tonta, embriagada pela inesperada violência do acto. Mais, abismada. Mais, atónita.
As autoridades consideraram que eles tinham tido cuidado com as minhas coisas, apesar de tudo.
Ninguém viu, ninguém foi capaz de testemunhar. Nesta aldeia onde todos se conhecem, ninguém fala do desconhecido. Parecia impossível, por isso ninguém queria acreditar. Tudo vazio, ouvia-se pela primeira vez o eco do meu choro em toda a casa.
No fim, apenas falavam do pano amarelo do pó que tinham deixado onde outrora existira um caldeira, de como eles tinham levado tudo, aberto gavetas, baús, memórias, mas tinham tido consideração pela proprietária da casa, estimando alguns haveres.
Agora, sem vestígios palpáveis das minhas memórias, apenas penso na outra casa que recebeu os meus lençóis, edredões, farinhas e ovos.
Amaldiçoo-os a todos.
FC