Sentou-se à mesa com a família. Tinha ouvido dizer que aquela barraquinha dos comes e bebes era bem conhecida pelos autarcas. Quem queria ser visto tinha de se sentar exactamente ali. Cumprimentou as pessoas e sorriu sempre que lhe chamavam "Senhor Presidente". Entregou-se, voraz, às sardinhas e à sangria e fingiu ouvir as histórias dos filhos e os lamentos da mulher. Era mais nova do que a primeira, mais bonita, mas não sabia se tinha sido a escolha acertada para as lides políticas. Todos lhe perguntavam pela primeira e, por vezes, ignoravam a segunda.
De qualquer modo, naquele dia, tinha acordado com a firme certeza de que chegaria a Presidente de Câmara. Começaria naquela barraquinha, beberia um copo de vinho com o Francisco, homem do partido, mostraria confiança nas finanças da Junta e despediria alguns funcionários que encontrasse na tasquinha onde habitualmente se reunia com amigos. Mostraria que sabia ser um exemplo para os outros. Iria controlar tudo e gastar o menos possível. Todos saberiam que com aquela função iria perder dinheiro. Sim, porque quando um homem deixa a profissão e se entrega a política, quando se entrega ao bem comum, este Homem deixa de pensar em si próprio.
FC