Machete: menos interessante do que "Planeta Terror", mas vá ver...
Apetece o quente das letras, o aconchego de tomar notas num novo caderno. Desbravar aquelas ideias dispersas e procurar nelas o nexo que a vida raras vezes tem.
Ora, é isso mesmo: o frio empurra-nos para a procura do nexo das coisas. Ao contrário: o nexo encontra-se na procura.
Vou continuar por aqui, entretida em brincar com aquilo que o frio desperta: a confusão da procura.
As horas tinham passado céleres, sem a mínima consideração pelo o que ela tinha passado. Aquela coisa do tempo começava a irritá-la. Era como uma espada - aguda no trato e fria no final.
Desta vez, bateu o pé e fingiu que se ria dele. Fez-lhe intimamente aquele gesto que, por pudor, nunca tinha feito à frente de outros. Agora estava acompanhada e estava demasiado ocupada em fingir desinteresse por aquele fenómeno que corria sem lhe pedir opinião.
Percebeu, por fim, que ele sempre a acompanhara. Apenas agora lhe estendera a mão e lhe tocara nas rugas do rosto.
O seu rosto lembrava-me um Mimo. Muito branco, olhos grandes, cabelo preto, algo ondulado. Era um rosto de um Mimo. Sorri quando vi aquele corpo frágil ingerir um entrada, mais o couvert, mais o primeiro prato, mais uma sobremesa. Sorri ainda mais quando a vi fechar os olhos sempre que tomava um pouco do copo de vinho tinto que tinha pedido. Era vê-la num puro prazer.
Tinha um olhar triste e vazio. Parecia fugir de todos. Um corpo de 50 anos, sem grande expressão, para além de deglutir um alimento. Olhava para o rio com algum interesse. De resto, apenas estava.
No entanto, escolheu um local hip, onde era raro estar uma mulher sozinha, daquele tipo. Esta é a verdade.
Nada a dizer, apenas aquele torpor do cansaço acumulado. Horas a fio na dispersão da fuga. A desilusão paga-se caro e, quando aparece, apetece trocá-la por uma qualquer pechincha.