10
Fev 11

Aquele estranho rapaz...

 

Os seus grandes olhos diziam tudo. Queria conversar, apenas isso. Não garantia que se portasse melhor depois. Não garantia nada. Apenas que ia tentar, que seria corajso quando não conseguisse, e que falaria verdade em qualquer circunstância. Os adultos olhavam para ele, entre a complacência e a desconfiança, e fingiram acreditar naquele estranho e solitário rapaz.

A mãe, esboçou um sorriso, quase verdadeiro, e prometeu que falariam. Não hoje, pois ele tinha deveres e muitos trabalhos. Amanhã no seu dia de folga, quem sabe... O rapaz solitário e estranho, ou nem por isso, só carente, afirmou então que queria ir para casa da avó. Estava a ser corajoso, já falava verdade.

publicado por imprevistoseacasos às 21:57 | comentar | favorito
10
Fev 11

Maria Gadú, a ouvir...

 

 

 

 

publicado por imprevistoseacasos às 00:10 | comentar | favorito
06
Fev 11
06
Fev 11

Lembranças

 

Que preguiça, pensar na nossa infância. Perguntam-me: "qual o odor mais antigo de que te recordas?" Fico parada no tempo, sem recordações, sem memória. Esta não reage bem à pressão, à pergunta. Levita algures por aqui, ali ao longe, sem coordenadas, sem morada.

 

Mas o que fazer ao odor a coentros e poejo que me persegue até hoje?

publicado por imprevistoseacasos às 20:00 | comentar | favorito
02
Fev 11
02
Fev 11

Madalena

 

Sonhava em ser um lápis. Não daqueles que delineavam letras, com formas sempre iguais. Queria antes desenhar, isso sim. Passava horas a pensar no que faria se uma mão criativa lhe pegasse. Pensando bem, o ideal seria ela própria, enquanto lápis, escolher os dedos mais adequados a esta tarefa. Obrigatoriamente ágeis, de unhas aparadas e tratadas, já que esta era uma tarefa de superior importância. Se pensarmos bem, as formas que surgissem no papel viveriam o tempo suficiente para mostrar a possibilidade de uma realidade, com um novo imaginário. Quando lhe perguntavam o que desenharia, este lápis hesitava sempre. Nova realidade significava omitir cenas de guerra, com tanques e pessoas aos gritos, ou gente a falar da crise com olhos de sofrimento e temor. Não. Teria de mostrar que o verde ainda importava, que o azul do seu lápis se podia misturar com o azul do céu, do mar ou do sonho. Pensamentos infantis, pensou. Ainda não estava preparada para mostrar que este lápis desenhava a realidade possível.

publicado por imprevistoseacasos às 08:23 | comentar | ver comentários (2) | favorito