Independentemente da orientação do voto de cada um, o facto é que há muito tempo não falávamos tanto de política como agora. Também é verdade que não encontro aquele entusiasmo e a esperança que muitas vezes encontrei numa disputa de ideias. Prefiro acreditar que as pessoas estão realmente preocupadas, finalmente, com a situação a que chegámos. Apetece fazer o balanço, olhar para trás e perceber quais foram os erros que todos cometemos ao lançar políticos impreparados, com ideias irrealizáveis, com projectos que ninguém leu, com ideias que poucos percebem.
Gostaria de acreditar que no próximo dia 5 de Junho o mal menor não será desculpa para a escolha. Prefiro acreditar que todos, ou quase todos, votaremos em consciência, afastando a demagogia do cenário político. Ouviremos com real atenção o que nos dizem os políticos que todos escolhemos.
Há muito que me irrita o discurso do eles e nós. Como se aqueles políticos que nos governam e os outros que se opõem, não tivessem sido escolhidos por nós, seja através do voto, seja através da abstenção ou da indiferença. A ladainha de certos discursos parece embalar-nos para um futuro, apesar de não vislumbrarmos qualquer horizonte, pode até responder aos nossos anseios, mas seria conveniente procurar uma fífia, uma nota mal tocada, já que remédios milagrosos e homens providenciais só os encontramos em sonhos.
Parecia estar bem, equilibrado. No entanto, suava em bica e olhava freneticamente para o relógio. Sorria, abanava a cabeça em sinal de assentimento, ao mesmo tempo que recebia as minhas palavras como se estas fossem um tipo de luz que só ele conhecia. Hesitei diversas vezes antes de lhe mostrar que bastava vê-lo naquele sofrimento para perceber que o equilíbrio ensaiado não resultara.
Reforçou, repetidamente, a importância dos erros cometidos. Apenas queria olhar em frente e evitar aqueles caminhos, dizia. Afinal percebera um dia, em pleno tormento, que ainda tinha futuro. Quando atingisse os dezoito anos já teria muito para contar. Esta era uma forma de futuro.
Há coisas
sobre
as quais
me quero
calar
porque
preciosas
de mais
precisas
de mais
Outras
porque
cruas
de mais
como
aventais
Adília Lopes
"A simpatia por Hitler valeu a Lars Von Trier um sinal proibido em Cannes. O cineasta foi declarado persona non grata pela direcção do festival de cinema francês, depois de ontem assumir-se “nazi” e declarar que compreendia e tinha simpatia por Hitler."
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Caso venha a ser Governo, o PSD irá prosseguir a constituição dos chamados mega-agrupamentos. No programa hoje divulgado os sociais-democratas defendem a “racionalização e gestão descentralizada da rede da oferta de ensino”, nomeadamente através da “consolidação do processo de agrupamento de escolas, privilegiando a verticalização pedagógica e organizacional de todos os níveis de ensino”.
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"Tanta gente com problemas sérios e tu, assim, sem acção, com pena de ti própria...francamente, Ana!"
E pronto, era desta forma que Ana via os SEUS problemas reduzidos a nada pelo seu companheiro. Eram pequenos para os outros, mas enormes para si, pensava. De tal forma que, por vezes, sentia uma vertigem, um apelo para se deixar ir, cair na rua, em casa, no sofá, na cadeira ou no vazio. Ora este último apelo era o mais convincente. Como se uma bolha a protegesse de si e, ao mesmo tempo, a afastasse das vozes dos outros, mesmo dos seus filhos. Quando este vazio se dissipava levemente, ainda tentava olhar em volta, numa procura de um olhar amigo. Mas não. Os seus pais, já idosos, choravam sempre que a viam com o rosto fechado, lívido, de quem não descansava, O irmão tinha uma vida ocupada e raramente olhava para os outros. Amigos eram poucos e todos tinham a sua família e os seus pequenos dramas. Ana sentia-se só.
Ana gostava da terra, gostava de observar os pássaros, de tratar de animais. Detestava o buliço da cidade, o anonimato egoísta em que vivia. Mas era a única. Aparentemente todos os outros estavam confortáveis nos seus T1s IKEA, nos seus carros citadinos, na sua correria quotidiana.
Ultimamente chorava em todo o lado e a bolha que a protegia já apresentava fracturas evidentes. Perguntava-se se era tempo de decidir.